quarta-feira, 7 de agosto de 2013

“O crescimento evangélico tem como causa a teologia da prosperidade!”

“O crescimento evangélico tem como causa a teologia da prosperidade!”

Por Gutierres Fernandes Siqueira

Eis o maior de todos os clichês para explicar o crescimento evangélico. Quem nunca ouvi essa frase? Eu já ouvi e li esse clichê em palestras de teólogos evangélicos, em seminários entre estudiosos católicos, artigos de jornais, reportagem de revistas, papers acadêmicos, blogs cristãos etc.

1. É claro pelos números que o crescimento evangélico ganhou mais corpo a partir de 1991. Naquele ano éramos apenas 9% da população. Em 2010 já éramos 22,2%. Mas é perceptível que o crescimento vem constante e persistente. Não há grandes saltos, mas sim um pequeno incremento na velocidade desse crescimento.

Gráfico publicado no jornal O Estado de S. Paulo
2. A Teologia da Prosperidade chegou ao Brasil na década de 1970, mas a popularidade dessa doutrina se deu na década de 1990 e 2000. Isso coincide com um crescimento evangélico maior, mas não necessariamente explica essa maior velocidade. É bom observar que igrejas ícones dessa teologia- como a Igreja Universal do Reino de Deus e Igreja Apostólica Renascer em Cristo- perderam membros e encolheram na década de 2000.  

3. Portanto, fica a pergunta: o que impulsionava o crescimento vigoroso entre as décadas de 1940 e 1970? Certamente que não era a prosperidade. A mensagem protestante/evangélica era em si pietista (antimundana, pobreza como expressão de humildade, legalismo, moralismo e experiências de conversão). Ora, nada disso tem ligação com a mensagem de autoajuda e prosperidade dos grandes tele-evangelistas. Falar que a Teologia da Prosperidade explica o crescimento evangélico é desprezar 70% do avanço dado no século XX.

4. A sociologia da Religião sempre explica o fenômeno religioso como consequência do meio e nunca como causa. É quase um vício acadêmico. O crescimento evangélico foi explosivo e os estudiosos se voltaram para os pais da sociologia. Leram o processo com óculos redundantes. O professor Jorge Pinheiro explica:

A academia em suas análises sobre o fenômeno evangélico brasileiro na alta-modernidade urbana criou três lugares comuns: mercado, trânsito religioso e fundamentalismo. Na verdade, a leitura reducionista da realidade traduz um defeito que nasceu de suas bases teóricas de análise, fundamentadas sobre les trois petits cochons da sociologia: Marx, Durkheim e Weber. É a partir dessa trindade que nos debruçamos sobre o fenômeno religioso. Esses três pensadores das ciências sociais, por mais importantes, tinham em comum a ideia de a religião é sempre consequência, resultante de fenômenos ou situações sociais e nunca fenômeno fundante, embora relacional com contexto cultural da época, situação e geografia. [1]

5. Aos evangélicos fascinados com conclusões sociológicos parece existir um ceticismo desprezador de qualquer intervenção divina. É duro ver jovens confundindo Ciências da Religião com teologia. Ora, enquanto a primeira é mais uma das ciências humanas, a segunda é um exercício de fé e dogma. A soberania de Deus não pode ser, também, descartada nesse processo, mesmo sem esquecer a mundanidade dos homens.

Referência:

[1] PINHEIRO, Jorge. Evangelicalismo e cidade: mitos da religiosidade evangélica brasileira. Em: REGA, Lourenço Stelio (org.) Quando a Teologia Faz Diferença: Ferramentas para o Ministério nos Dias de Hoje. 1 ed. São Paulo: Editora Hagnos, 2012. p 201-202.


Que o SENHOR tenha misericórdia de nós! AMÉM!

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